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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Em Memoria de Dumbledore

Por: Elfias Doge
Conheci Alvo Dumbledore aos onze anos de idade, em nosso primeiro dia em Hogwarts. Sem dúvida o nosso interesse mútuo se deveu ao fato de ambos nos sentirmos deslocados. Eu contraira varíola de dragão pouco antes de chegar à escola, e, embora não oferecesse mais contágio, o meu rosto marcado e verdoso não animava ninguém a se aproximar de mim. Por sua vez, Alvo chegara a Hogwarts carregando o peso de um indesejável notoriedade. Menos de um ano antes, seu pai, Percifal, fora condenado por um ataque selvagem, e amplamente comentado, a três rapazes trouxas.
Alvo jamais tentou negar que o pai (que morreria em Azkaban) cometera o crime; muito ao contrario, quando reuni coragem para lhe perguntar, ele me confirmou que sabia que o pai era culpado. E se recusava a acrescentar o que fosse sobre o triste caso, embora muitos tentassem faze-lo falar. Alguns até se dispunham a elogiar a atitude do pai, presumindo que Alvo também odiasse trouxas. Não poderaim estar mais enganados: todos que conheceram  Alvo atestariam que ele jamais revelou a mais remota tendencia antitrouxa. Na realidade, seu decisivo apoio aos direitos dessa comunidade conquistou-lhe muitos inimigos nos anos que se seguiram.
Em questão de meses, no entanto, a fama pessoal de Alvo Dumbledore começou a eclipsar a do pai. Ao terminar o primeiro ano de Hogwarts, deixara de ser conhecido como o filho do homem que odiava trouxas, e ganhou a reputação de ser o aluno mais brilhante que a escola já vira. Aqueles que tinham o privilégio de ser seus amigos se beneficiavam do seu exemplo, além de ajuda e estímulo, que sempre distribuia com generosidade. Mais adiante na vida, ele me confessaria que já naquela época sabia que seu maior prazer era ensinar.
Alvo não só ganhou todos os prêmios importantes que a escola oferecia, bem como não tardou a se corresponder regularmente com as personalidades mais notaveis do mundo da magia contemporânea, inclusive Nicolau Flamel, o famoso alquimista, Batilda Bagshot, renomada historiadora, e o teorico da magia Adalberto Waffling. Vários dos seus artigos foram acolhidos por publicações cultas como a Transfiguração Hoje, Desafios nos Encantamentos, O Preparador de Poções. A carreira futura de Dumbledore provavelmente seria meteórica,  e a única dúvida era se chegaria a ministro da Magia. Embora futuramente se previsse com frequência que ele estrava às vésperas de assumir o cargo, Dumbledore nunca teve ambições ministeriais.
Três anos depois de começarmos a estudar em Hogwarts, seu irmão chegou à escola. Não se pareciam; Abefforth nunca foi dado a leituras e, ao contrario de Alvo, preferia resolver suas diferenças con duelos em vez de discuti-las racionalmente. É, porém, um engano insunuar, como alguns tem feito, que os irmãos não fossem amigos. Davam-se tão bem quanto dois garotos, assim diferentes poderiam se dar. E para fazer justiça a Abefforth, deve-se admitir que viver à sombra de Alvo não pode ter sido uma experiencia muito confortável. Ser continuamente ofuscado era um risco ocupacional que acompanhava seus amigos, e não pode ter sido muito mais prazeroso para um irmão.
Quando Alvo e eu concluimos os estudos em Hogwarts pretendiamos fazer juntos a viagem pelo mundo, então tradicional, para visitar e observar os bruxos estrangeiro, antes de seguir cada qual a sua carreira. Interveio, porém, a tragedia. Na vespera de nossa viagem, a mãe de Alvo, Kendra, faleceu, legando ao filho mais velho a tarefa de chefiar e sustentar sozinho a familia. Adiei minha partida tempo suficiente para prestar as ultimas homenagens a Kendra, então iniciei a viagem, solitário. Com um irmão e uma irmã mais jovens para cuidar, e o pouco dinheiro herdado, já não havia possibilidade de Alvo me acompanhar.
Aquele foi o periodo de nossas vidas em que mantivemos menos contato. Escrevi a Alvo, narrando, insensívelmente, as maravilhas da minha viagem, desde o episidio em que escapei por um triz de quimeras na Grécia até as minhas experiencias com alquimistas egípicios. As cartas dele me contavam alguma coisa de sua vida diária, que eu percebi ser monótona e frustrante para  um bruxo tão genial. Absorto em minhas proprias experiências, foi com horror que soube, quase no fim do ano de viagens, que outra tragedia se abatera sobre a família: a morte de sua irmã Ariana.
Embora Ariana não gosasse de boa saude havia tempo, o golpe tão próximo à morte da mãe afetou profundamente os dois irmãos. Todos que eram mais chagados a Alvo - e incluo-me entre esses felizardos - concordam que a morte de Ariana e o sentimento de resposabilidade do irmão por esse desfecho (aida que ele não fosse culpado) marcaram-no para sempre.
Quando regressei, encontrei um rapaz que passara por sofrimentos de um homem mais velho. Alvo tornou-se mais reservado e muito menos alegre. Para aumentar sua infelicidade, a morte de Ariana não conduzira a uma aproximação maior entra Alvo e Aberfforth , mas a um afastamento. Com o tempo isso se resolveria - nos ultimos eles restabeleceram se não um relação intima, ao menos cordial. Desde então, porém, ele raramente falava dos pais ou de Ariana, e seus amigos aprenderam a não menciona-los.
Outros escritores descreverão os triunfos do anos seguintes. As inumeras contribuições de Dumbledore ao acervo de conhecimento sobre magia, inclusive a descoberta dos doze usos para o sangue de dragão, beneficiarão as futuras gerações, do mesmo modo que a sabedoria que demonstrou nos muitos julgamentos que realizou durante o mandato de Presidente da Suprema Corte dos Bruxos. Dizem, ainda hoje, que nenhum duelo de magia jamais se igualou ao que foi travado entre Dumbledore e Grindelwald, em 1945. Os presentes descreveram o terror e o assombro que sentiram ao observar aqueles dois bruxos extraordinarios combaterem. A vitoria de Dumbledore e suas consequencias para o mundo bruxo são consideradas um marco na historia da magia, comparavel a introdução do Estatuto Internacional de Sigilo em Magia ou a queda d'Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.
Alvo Dumbledore jamais demonstrava orgulho ou vaidade; sempre encontrava o que elogiar em qualquer pessoa, por mais insignificante ou miseravel que fosse, e acredito que as perdas que sofreu na juventude o dotaram de grande humanidade e solidariedade. Sentirei saudades de sua amizade mais do que poderia reconhecer. A minha perda é desprezivel se a compararmos a do mundo dos bruxos. É indiscutivel que ele foi o mais inspirador e o mais querido diretor de Hogwarts. Ele morreu como viveu: Sempre trabalhando para o bem maior e, até sua hora final, tão disposto a estender a mão ao garotinho com variola de dragão quanto no dia em que eu o conheci.

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